sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"I am a woman who walks alone."


Morei por mais de 20 anos em uma cidade do interior, cujo problema é a falta de opções. Passei minha adolescência indo à única boate da cidade, para socializar com meus amigos e não passar os finais de semana no mirc. Adoro sair à noite. Se dependesse de mim, teria uma vida completamente noturna. Não gosto da iluminação do sol, nem da rotina corrida do dia-a-dia. À noite o tempo se estende.

Porém, o estilo de "noite" que eu gosto não encontro na minha cidade no interior. Gosto da boemia poética, não da vida comercial-de-cerveja. Não quero "clima de azaração" /malhaçãofeelings, música da moda e playboyzinhos com seus carros rebaixados. Bares decadentes são a minha paixão.

Assim, logo que adquiri o mínimo de independência, passei a ir para outras cidades, onde há os tais botecos. Ia até a rodoviária, pegava ônibus, parava em algum bar chinelão (gauchês, oi). Muitas vezes, já amanhecendo, saía do bar e voltava diretamente à rodoviária.

Meus amigos não gostavam dos lugares a que eu ia, foi quando adquiri um hábito que logo virou hobby: sair sozinha. Muita gente considera bem esquisito, mas não mensura o prazer que é.

Aprendi a escolher os bares certos, aqueles isolados, com boa música e pessoas sem sorriso colgate, sem bronzeado laranja. Aqueles que, muitas vezes, nem sabemos o nome, pois não há placa indicando. Aqueles cuja programação é desconhecida, porque não possuem site.

Bares que parecem nunca fechar, que vendem fiado e cujas paredes estão descascadas. O dono é íntimo de todo mundo, parece até uma festinha privada. E lá surjo eu, sozinha.

O cigarro é meu único companheiro nessas horas. Ele ocupa a mão quando não sei onde pô-la, me esconde quando não sei para onde olhar. Ele alimenta meus pensamentos, que brotam com a fumaça e se perdem no ar. Fico lá, observando as pessoas, ouvindo a música, tragando meu cigarro.

Vez ou outra aparece alguém para pedir fogo e, de quebra, trocar uma idéia. Mas, ao contrário dos barzinhos da moda, os homens não costumam desrespeitar, puxar pelo braço e achar que você está dando mole se der um sorriso. Lá eu posso ser simpática sem me preocupar em ser agredida verbalmente por dizer um "não" caso tentem me beijar. E posso, caso esteja menos sociável, simplesmente não conversar, sem medo de ser mal interpretada.

Fiz alguns amigos assim, que duram até hoje ou que foram só por uma noite. Ouvi histórias, compartilhei dramas, me diverti. São bares com personagens singulares, com ambiente aconchegante, quase uma segunda casa. Se eu fosse escritora, seria em um bar decadente que eu gostaria de trabalhar.


2 comentários:

  1. adorei, mas bebeum demais pra escrever algo que singularize minha opinião...ela me entende. amanhã ou depois vou reler e escrever sobriamente mas jamais conscientemente....

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  2. Sair sozinha (só acompanhada daquele maço amigo) é uma arte.

    Eu gosto de poder ir ao lugar que eu quiser, na hora que eu quiser, para ouvir a música que eu estiver a fim. Sem aquela obrigação insuportável de acompanhar as amigas no banheiro, retocar a maquiagem e parecer linda como um bibelô numa prateleira, esperando alguém te achar mais bonita que a menina ao lado para então vir conversar com você. E conversar com alguma intenção, lógico, pq "balada é pra zuá" e sair zerado é coisa de frango, então não dá pra trocar idéia por mais de 15min se não for pra finalizar.

    Preguiça desses lugares.

    Tomar a cerveja naquele copinho frisado, encostado no balcão ou sentado na cadeira de plástico com logo da schin (para os com mais de 50kg a emoção "Será que essa merda me aguenta a noite inteira?"), prender o cabelo num coquinho frouxo quando o calor apertar, dar risada sem se preocupar se o perfil está bom e conversar com os mais variados tipos. Pq nos botecos eles conversam por conversar. Te contam coisas que não contaram nem pro melhor amigo.

    Comentário post. Adorei o blog ;D

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